- CONFISSÕES DE UMA CRIANÇA DE RUA
Eu tinha onze anos, mas aparentava ter oito, no máximo nove. Meus seios nem estavam em formação. Os cabelos lisos pareciam alisados artificialmente devido à falta de cuidados. Shampoo era artigo de luxo. Usava no máximo um sabão de côco, mas quando não tinha ia sabão grosso mesmo. A pele clara era manchada pelo sol de tanto que eu andava. No meu corpo, as marcas de ferida de uma catapora mal curada. Não tinha tempo para ficar doente, precisava trabalhar, mas eu tinha um coração limpo e o sonho de ter uma vida melhor. Minha vida nunca foi fácil, desde que abrir os olhos e percebi que estava nesse mundo me vi sem saída para uma vida digna. Cresci rodeada pela miséria. Cada um era mais pobre que o outro. A fome em casa doía tanto que já fazia até parte da família. O feijão no prato sumia entre o suco ralo. Carne era luxo, só em dias de festas. Bolo então, nem pensar. Tudo que comíamos era feijão com arroz e farinha, mas às vezes, até a farinha era difícil parar na mesa. A única coisa sagrada era o pão. Pelo menos um pedacinho comíamos todos os dias, mesmo porque o padeiro era amigo da comunidade e distribuía pão para os mais humildes. Minha família era uma das premiadas. Lembro do sorriso da minha mãe quando avistava de longe o padeiro. Era a única vez que ela sorria no dia. Vá gostar de pão assim na América do Sul, hoje posso falar bonito, mas antes substituía o América do Sul por um palavrão daqueles bem cabeludos. O pobre aprende desde cedo a chamar palavrões. Não conheço um pobre que nunca tenha falado um nome feio, sempre está na ponta da língua. E mesmo que a mãe ou o pai repreenda, o moleque teima e fala. Eu mesmo confesso que tinha uma lista de palavrões guardadas em minha cabeça. Um para cada situação, mas guardava os mais populares para o meu pai, esse sim merecia ouvir todos e até os que não foram inventados. Meu pai é a pior espécie de ser humano que eu conheci na vida. Nasceu e se criou na pobreza e herdou o mau-caráter dos tios, que foram assassinados ainda na adolescência depois que fugiram da cadeia por terem cometido uma serie de assaltos e estupros. Filho de lavrador conheceu a enxada antes da chupeta. Chegou a roubar para dar o que comer para nós. Também foi preso e abusado sexualmente na prisão, o que talvez tenha piorado seu juízo. Mas verdade seja dita: meu pai nunca foi chegado ao trabalho. Fingia que procurava emprego, mas o que ele fazia mesmo é cometer pequenos furtos e dizia para minha mãe que era dinheiro de “bico”. Dormir era o que ele mais gostava de fazer na vida. Enquanto eu e minha mãe estávamos na lida, ele roncava no chão como um bicho, dava até medo. Se ninguém o incomodasse ele virava o dia até a noite dormindo. Mas minha mãe às vezes o acordava aos gritos, aí ele batia nela e ia para a rua. Às vezes só chegava de manhã, com o cheiro de cana podre. Isso quando não adormecia na beira de uma vala próximo de casa. Eu não tinha nem pena. Parecia que ele nem era meu pai de tão nojento. Posso dizer que foi este homem, que me deu seu sangue inconscientemente através do sêmen, que me fez escrever a triste história de minha vida.
Quantas e quantas Tatianas encontramos por este PAÍS afora. Crianças maltratadas, abandonadas, que tem seu trabalho explorado e sofrem nas mãos dos maus brasileiros.
ResponderExcluir¨¨
¨¨
Esta é realmente "UMA TRISTE REALIDADE"
Esta historia é um exemplo de vida e devemos aprender com esta historia e ver como é duro esta vida!!!!
ResponderExcluir